E.P.S


SABERES POPULARES EM SAÚDE: UM RESPEITO NECESSÁRIO

Este presente texto busca sistematizar discussões acerca dos saberes populares em Saúde e Educação e suas relações com as Políticas Públicas de Educação em Saúde.
Entendo que se faz necessário dirigir o olhar as formas de implementação das Políticas Públicas em Saúde, para entender a lógica interna. O “como” são propostas as implementações destas políticas. Este olhar atento demonstrará contradições de interesses, conflitos internos principalmente diferenciações de objetivos. Para além disso, demonstrará um equívoco grave: a forma de sua confecção. Políticas pensadas a partir de referenciais acadêmicistas e bio-médicos normalmente tendem a menosprezar as formas de ação e intervenção das comunidades e dos movimentos populares.

Neste sentido entendo que é preciso, focalizar a lente, em profundidade, aos saberes populares, naquilo que eles apresentam como essência. Ter claro o “como” se processam, o porque de sua existência no tempo e nas práticas de prevenção e cura é um dos caminhos necessários para que se forje políticas em saúde, coerentes com as necessidades populares e capazes de surtirem os efeitos desejados. É no entender a lógica da manifestação popular e nas práticas médicas populares, que se
apresenta uma possibilidade de sucesso na implementação das políticas públicas.

Precisamos ter claro que não é por acaso a medicina bio-química, de origem ocidental, foi incapaz de acabar com os “curandeiros”. Estes ainda preservam saberes e até mesmo uma lógica própria de pensamento/ação que difere da bio-ciência, e justamente por isso se preservam no tempo e no espaço. Espaço diferenciado? sim, mas não se menos científico e eficaz. Estes conhecimentos foram adquiridos através de observações exaustivas, hipóteses testadas e aferidas ao longo dos tempos pelos diferentes povos e culturas, portanto, prenhes de verdades e eficácia dentro da lógica de organização social donde provém.
Quando propomos ações de Educação em Saúde é preciso ter em mente o significado destas ações no âmbito dos saberes populares. Garantir o respeito aos saberes, costumes e formas de organização popular amplia a margem de compreensão dos significados das práticas de saúde e doença que ali existem, e principalmente oportuniza entender quais os determinantes que levam estas práticas a permanecerem ao longo dos tempos.
A propósito destas questões, buscamos dialogar com Seppíli40, que tem suas raízes na antropologia médica, que está a nos ensinar que é preciso conhecer um pouco além da bio-ciência, é preciso entender o conjunto das representações sociais relativas aos processos de saúde e doença da população e o “como” as pessoas subjetivizam estes momentos.
Dito desta forma está óbvio que a cura não é só resultado bio-químico e sim um resultado complexo, motivado pelas condições psico-físicas do sujeito enfermo, que responde, narra e vive a doença conforme suas origens étnicas, culturais e sociais.

Ou seja, o fator de cura biológico, deve ser relativizado, ao relacionar-se com os fatores sociais. Um exemplo contemporâneo desta necessidade, de se atentar para fatores além-fármacos, são as doenças degenerativas que não são curáveis sem a participação ativa do sujeito que a vivência. Uma parte das pesquisas recentes demonstram que os fatores emocionais são fundamentais na vivência do processo de saúde e doença. A subjetivação da doença é tão importante quanto a própria doença. Deixando claro que a vivência subjetiva cultural é tão importante quanto a vivência biológica dos processos de saúde e doença.
Desta maneira é preciso que os fomentadores das Políticas Públicas de Educação em Saúde, os promotores de Saúde Pública, compreendam seu papel de agentes políticos. Para além disso, o conceito de Saúde Pública precisa de uma opção científica mais alargada para dar conta das diferentes matizes. Este conceito precisa englobar em si mesmo um salutar respeito aos conhecimentos populares. Precisa também assegurar em sua dinâmica uma postura investigativa no intuito de interpretar a lógica de formação de seu conteúdo.
Portanto, para se ter êxito em Ações Educativas de Saúde Pública é preciso ter o diálogo como mediador, a lealdade como suporte político e os saberes populares como uma das fontes de conhecimento.

Prof. Ms. Carmo Thum